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Marcelo Conde

"É o horário que termina, não o que começa."

Atualizado: 27 de jun.






Desde que saí do Brasil, em 2019, escuto muito a pergunta “como é trabalhar lá fora?”, como se “lá fora” fosse um lugar único, tudo que não fosse Brasil.

E durante ese período, o que pude perceber primeiro é como a Europa, embora seja um mesmo continente, é bem diferente país a país. E também em relação ao Brasil.

Neste espaço, procurarei separar os pontos que me chamaram atenção em alguns países, quando feita a comparação, para o bem ou para o mal, com o Brasil ou mesmo entre os países para onde trabalhei.

Lembrando que essa é uma experiencia pessoal minha e que, portanto, não pode ser vista como regra ou verdade absoluta, claro.

 

O primeiro ponto que comentarei é sobre como os ingleses e os suecos tratam os horários das reuniões.

 

Embora eu tenha sido sempre muito bem tratato nas apresentações que fiz a eles, acredito que ninguém é mais respeitado nas reuniões do que o tempo.

Pode ser um grande clichê, mas realmente me parece uma instituição.

 

No entanto, o que me parece um pouco surpreendente é que não é exatamente o momento que a reunião começa que é o mais importante. Mas sim a hora em que ela termina.

 

Se a reunião está marcada para durar até 10h45, ela vai terminar às 10h45.

Sempre haverá alguém que, faltando cinco minutos, levantará a mão para avisar o tempo que falta.

 

Essa rigidez com o fim, é o que determina a obediência ao começo. E não o contrario. Porque ajuda a não acontecer um encadenamento de atrasos, uma reunião prejudicando a seguinte: cinco minutos na primeira, dez na segunda e, na última, um atraso de uma hora.

 

O final, visísvel como uma gilhotina, também contribui muito para a objetividade do que está sendo discutido. Se há um horário certo para terminar, é preciso chegar a uma decisão, sem muitas elocubrações, andadas para o lado, giradas de lâmpada. Não que elas não existam. Mas diminiu a incidência, sem dúvida.

 

E mesmo os trabalhos a serem discutidos ficam mais direto ao ponto e somos forçados a sermos mais claros e objetivos também na hora de montar as apresentações. Até porque as reuniões nunca têm 2, 3 horas. É sempre meia hora, 1 hora, 1 hora e meia, no máximo.

 

É o horário fixo para terminar, portanto, que acaba forçando as pessoas a não se atrasarem no começo das reuniões. Ou seja, a pontualidade não é apenas um conceito cultural, mas também objetivo. Ou você chega na hora ou não terá tempo suficiente. Porque a reunião vai terminar no horário definido, não importa o que tenha acontecido.

 

Todo ese contexto me forçou a ser mais organizado com o meu tempo. O que, para um criativo, é ainda mais difícil. Porque nunca se pode ter certeza, principalmente durante a conceituação de ideias, a hora ideal para parar. Para mim, hoje, a hora para parar é a hora em que eu tenho que parar. Para não chegar atrasado, para ter tempo suficiente na reunião e discutir o que precisa ser discutido.

 

Se isso é melhor ou pior do que o processo que estava acostumado no Brasil, não sei. Mas é uma forma diferente de trabalhar, com a qual tive que me adaptar aquí. Rápido e sem atrasos. Ao menos quando ingleses e suecos estão envolvidos.




*Marcelo Conde é publicitário e escritor. Nasceu no Rio de Janeiro, onde começou a carreira em agências de propaganda, antes de se mudar para São Paulo, em 2006, para trabalhar na W/Brasil. Por lá, ficou 13 anos, e trabalhou também na Y&R e na WMcCann. Em 2019, recebeu o convite para ser diretor de criação global da marca de carros SEAT, na Catorce/DDB em Barcelona. Hoje vive em Madrid, e é do Swat Team para EMEA da Edelman. Como escritor, publicou os romances “Apneia” e “Amanhã vai ser pior”, além de ter sido finalista do Prêmio SESC de Literatura, na categoria contos.

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